O Fantástico Rodrigues e a Teatrologia do Subúrbio.
Estamos proibidos.
Numa época onde os movimentos se destacam e resgatam diariamente voz aos seus direitos, estamos proibidos. A Arte será proibida. O corpo, a matéria, não nos pertence com liberdade. A arte está proibida.
O tempo passa, as histórias se transformam e o artista, esse, que tem como matéria prima o humano e a si próprio, mesmo dentro de casa, vive domado a uma mordaça de tabus geracionais num constante movimento de transformação.
Servimos historicamente a denominação de 'Liberdade'. Somos? O que fazermos enquanto artistas? São as coisas que vivem de nós ou somos nós que vivemos das coisas?
Essa montagem chega num momento simbólico para o Teatro da Neura: Dois mil e dezoito. Trabalhamos muito para chegar até aqui. Entendemos ser piorneiros numa maneira de fazer teatro e desde então, estudar e produzir numa continua provocação para fora e para dentro do grupo, anda sendo um dos principais desafios. Uma linguagem que nasce a partir de um trabalho autoral, hoje transcende para obras clássicas ressignificadas dentro de todo esse universo: O Realismo Fantástico.
Nossa missão com essa pesquisa é entregar para o publico uma obra onde não o subestime em nenhuma esfera e faze-lo pensar e acessar em si um lugar muitas vezes desconfortável, uma poética pessoal, numa excelência artística, resultado de muito trabalho de pesquisa em sala de criação.
É preciso trair a expectativa do publico. Nesse projeto, de braços dados com o fantástico , Nelson Rodrigues é desvendado com seu subúrbio tão atual e emergencial. A morte enquanto obsessão e comércio. O corpo enquanto pecado, salvação e passagem. O oficio enquanto resistência e liberdade de expressão.
A arte pode morrer. O teatro pode morrer. Nós, artistas, corremos perigo de morrer. Enterrar nossas inquietudes e criações num mausoléu a serviço de uma tradição de ordem vertical onde não se deve ser. Não se deve fazer. Essa montagem carrega dentro de todo o simbolismo do momento um elenco precioso: Trabalhadores do Teatro.
O que nossa platéia presenciará é uma criação de oficio. Personagens criados com uma pesquisa guiada a partir de discussões e práticas com um rico material individual a serviço do coletivo.
Foram mais de 55 cenas de improviso e pesquisa, mais de 140 horas de ensaios intensos divididos em praticamente 6 meses. Uma preparação corporal preciosa e precisa para toda a composição e criação do ator. Uma produção estética de encher os olhos num ateliê a céu aberto na sede do grupo. Um novo registro conceitual e teórico a cada novo ensaio.
A 'Morta' é um espetáculo de oficio. Hoje, as vésperas de comemorar nosso aniversário de vida, zombaremos da morte. Essa que com ou sem medo não escaparemos. Nosso corpo aqui é só uma passagem.
Até a morte é arte.
A Morta Mais Linda da Cidade
É um manifesto sobre o corpo morto. Sobre a morte e o direito de morrer. O corpo vivo que se desenvolve mas continua a ser um amontoado de carne e ossos procurando sentido.
O Teatro da Neura dá continuidade a sua pesquisa em Realismo Fantástico dentro da obra de Nelson Rodrigues, explorando outros motes das suas histórias tão maravilhosamente contadas.
Toda a fixação com a morte e seus desígnios, loucura, paixão e as já conhecidas obsessões rodriguianas tão próximas das nossas neuroses, pessoais e coletivas.
Zulmira, a protagonista da sua própria morte, sonha com um enterro de parar o Rio de Janeiro e fazer inveja a sua prima e vizinha, Glorinha, que é um exemplo de seriedade e bons costumes.
A procura da morte fantástica, Zulmira sucumbe nas suas próprias obsessões num enredo trágico e suburbano, repleto de personagens rodriguianos ressignificados dentro da pesquisa do grupo.
Livremente inspirado no Universo de Nelson Rodrigues
Ficha Técnica
Dramaturgia e Direção
Antônio Lagreca Nicodemo
Direção de Movimento
Lígia Berber
Conceito Musical
Cauê Drumond
Assistência de Registro
Bianca Alves
Elenco
André Antero
Cauê Drumond
Cibele Zucchi
Galiotto Michel
Tuane Vieira
Figurinos
Leandro De Santana Selva
Cenário e Adereços
Gilson Peres
Maquiagem
André Antero
Desenho de Luz
Carlos Rei Rai Gomes
Arte Gráfica
Flávia Gonçalves
Operação Técnica
Bianca Alves
Carlos Rei Rai Gomes
Produção Criativa
Antônio Nicodemo
Gilson Peres
Leandro de Santana
Produção
Vinicius Amaral e Galiotto Michel
Assessoria de Imprensa
Gabriela Pasquale
*Classificação - 18 anos.
O Processo Criativo